Sentas-te na cama de hotel com o vestido à beira do abismo, pergunto-me se sentes
O cheiro da perdição, aproximando-se a cada centímetro de
pele branca que me revelas,
Deitas-te e desvio as cortinas da janela, engulo o betão
sujo da cidade para não morder
A carne em que te estás a tornar, não te quero só carne, mas
a fome cresce no quarto
Pequeno do hotel barato como se um corte num dedo no ar
carregado com a nossa fraqueza,
Somos amantes de fracassos, colecionadores de nomes
esquecidos, tatuados pelo cheiro
De desejos anónimos, somos irmãos incestuosos à distância,
dançamos embalados pela
Amizade e pelo desejo, a luz agora acende o teu cabelo e eu
penso em quantas putas
Terão sido fodidas naquele quarto, estarão os lençóis tão
limpos quanto a nossa fidelidade,
Escreverei este poema no duche, enquanto esfrego os tomates
cheios de fracasso e
Esquecimento, a uma distância segura das pupilas que seguem
cada verso, longe de nós,
Não te direi a vontade que tive nos dentes antes de a noite
te levar para a tua insónia,
Nem te prometo que voltarei a desviar as cortinas, custou-me
tanto não te revelar a ti,
Banhar-me na luz do teu fogo, engolir-te toda até me afogar
se fosse preciso,
Mas lá está, só fodemos o que está à mão, o que se pode
largar e esquecer,
Não o que já nos é sem consentimento, enquanto esfrego os
tomates no duche,
É a ti que toco, perdida na cama de hotel, o medo da tua
ausência nos meus dias cinzentos,
Contudo, sabes que o que os meus olhos comem, os meus dedos
pouco digerem,
Se te queres poema, inscreve-te na minha pele.
Turku
26.06.2015
João Bosco da Silva