segunda-feira, 27 de julho de 2015

Ele


faço login no sono
mas o meu feed parece abandonado,
um deserto metafísico.
subitamente o teu corpo naufraga
exposto a um pudor guerreiro,
os teus poemas abertos dão lugar
às tuas pernas abertas mas ainda assim há um texto:
“Somos terra líquida, último alimento das árvores”.
fraco e inválido, o meu sangue
estremece em direção à polis
onde tudo se cria.

a minha mão apressa-se
a saciar o grito,
mas não o alcança,
em vez do meu pénis duro
tenho sangue e vísceras onde
a minha mão desata
em desespero e confusão.

a seguir estás sentada
numa cadeira prostituta,
pronta a sugar-me o mineral do corpo
quero desfazer-te pela cona
mas tu não me entendes
começas a falar nesse estrangeiro suburbano
que aprendeste na cama
com outras culturas.

eu sei que não dormes
e às vezes tenho pena
penetrava em ti o meu ofício
espancava-te as metáforas minúsculas
por onde regulas a tua existência.

se te fodia era para o teu bem
fodia-te até à vertigem.
sem nunca te conseguir saciar o medo.
também eu não durmo
porque a noite é vadia como o meu desejo.
chama-me puta,
sou a tua puta,
sozinho, não estrangeiro.

quando acordar estarás no meu feed,
de pernas fechadas
e poemas abertos
a todas as interpretações.


27.04.2015

Braga

Sara F. Costa



Sem comentários:

Enviar um comentário